Relatório Preliminar - Março/2025
Resumo Executivo
O presente relatório, elaborado pelo movimento “Paulista Boa Para Todos”, apresenta uma análise detalhada dos impactos negativos do Programa Paulista Aberta, que promove apresentações musicais amplificadas aos domingos e feriados na Avenida Paulista. A iniciativa, composta por moradores da região, reúne dados quantitativos e qualitativos que evidenciam a insatisfação dos residentes frente à poluição sonora e seus efeitos adversos na saúde e na qualidade de vida.
Entre os principais achados, destaca-se que a maioria dos moradores considera o volume elevado das apresentações e a simultaneidade das bandas como fatores críticos, afetando significativamente o descanso e promovendo sintomas como estresse, insônia e ansiedade. Comparações entre os níveis de apoio ao programa em 2015 e 2025 revelam uma drástica redução na aprovação, sobretudo entre aqueles que sofrem diretamente com o barulho. Adicionalmente, o relatório ressalta que os impactos não são homogêneos, concentrando-se especialmente em determinados condomínios, onde os níveis de ruído ultrapassam os limites aceitáveis para ambientes residenciais.
Fundamentado em princípios constitucionais que garantem o direito à saúde, ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e à participação cidadã, o documento defende a necessidade de medidas emergenciais para mitigar a poluição sonora. Entre as soluções sugeridas estão a fiscalização rigorosa dos níveis de som, a delimitação de áreas de apresentação longe de zonas residenciais e a revisão das diretrizes operacionais do programa, de modo a conciliar o direito ao lazer com o direito ao descanso e à qualidade de vida dos moradores.
Em síntese, o relatório evidencia que, embora o programa tenha potencial para fomentar a cultura e o convívio social, a atual configuração dos eventos prejudica a convivência urbana e a saúde pública, demandando uma intervenção imediata das autoridades para tornar a Avenida Paulista um espaço verdadeiramente bom para todos.
Pesquisa sobre o Impacto da Poluição Sonora do Paulista Aberta na Vida dos Moradores dos Prédios Residenciais
Introdução
O Programa Paulista Aberta é uma iniciativa que desde 2015 transforma a Avenida Paulista aos domingos e feriados, fechando-a para veículos e abrindo espaço para pedestres, ciclistas, artistas de rua e atividades de lazer. A proposta surgiu com o objetivo de oferecer mais lazer e convivência no coração de São Paulo, tornando a cidade mais humana e compartilhada.
Passada uma década desde sua implementação, foi realizada uma pesquisa com os moradores da Avenida Paulista para avaliar como o programa afetou suas vidas ao longo dos anos. Este relatório apresenta os resultados de forma acessível ao público geral, segmentando os achados em categorias chaves e ilustrando-os com gráficos para facilitar a compreensão.
Contexto da Pesquisa
Entre 3 e 31 de março de 2025, foi realizada uma pesquisa com moradores de condomínios residenciais na Avenida Paulista e arredores, por meio de formulários impressos e online. O objetivo foi avaliar os impactos negativos da poluição sonora gerada pelo programa Paulista Aberta – evento que ocorre aos domingos e feriados com apresentações musicais de rua – na qualidade de vida e na saúde dos residentes locais. A pesquisa analisou 259 respostas válidas contendo dados quantitativos (escalas de apoio ao programa, percepções de incômodo) e qualitativos (relatos de efeitos na saúde). Este relatório apresenta uma análise clara e objetiva desses dados, voltada ao público geral (autoridades, imprensa, sociedade civil e moradores), com foco em:
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Percepção dos moradores sobre o volume do som amplificado e o número de apresentações simultâneas;
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Relação entre esses fatores de ruído e os relatos de prejuízo à saúde mental;
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Efeitos relatados no bem-estar – como estresse, insônia, ansiedade – atribuídos à poluição sonora;
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Comparação do apoio dos moradores ao programa em 2015 vs. 2025, especialmente entre quem sente impactos negativos do som;
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Diferenças de percepção conforme o tempo de moradia na região (<5 anos, 5–10 anos, >10 anos).
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Análise da localização dos depoimentos, identificando os condomínios com maior número e/ou proporção de reclamações, evidenciando a concentração dos impactos negativos em pontos críticos da região.
Caracterização dos Participantes
A maioria dos moradores entrevistados reside na região da Avenida Paulista há mais de uma década (59,3%), indicando um perfil dominado por residentes de longa data. Por outro lado, 21,9% dos respondentes moram na Paulista há menos de 5 anos, enquanto 18,9% estão no local entre 5 e 10 anos. Essa diversidade de tempo de moradia é importante: moradores antigos tendem a ter acompanhado desde o início do programa Paulista Aberta em 2015, ao passo que novos residentes podem ter conhecido a avenida já com o projeto em funcionamento. Desse modo, a pesquisa captou opiniões tanto de veteranos da Paulista quanto de recém-chegados, fornecendo uma perspectiva abrangente da comunidade local.

Figura 1 – Tempo de residência dos participantes na Avenida Paulista mostrando a distribuição do tempo de moradia dos respondentes: 59,3% moram há mais de 10 anos, 21,9% há menos de 5 anos, e 18,9% entre 5 e 10 anos.
Impacto na Saúde Mental
Um dado que chama atenção é o impacto do Paulista Aberta na saúde mental dos moradores. Ao serem questionados se o programa impactou negativamente seu bem-estar psicológico, 85,3% dos participantes responderam que sim, contra apenas 14,7% que não perceberam impacto negativo. Em outras palavras, a maioria indica algum nível de estresse ou incômodo mental atribuído às atividades decorrentes do fechamento da avenida. Esse resultado sugere que, apesar dos benefícios públicos do programa, muitos moradores vivenciam sobrecarga emocional, possivelmente ligada a fatores como barulho excessivo, aglomeração e alterações na rotina aos domingos. A percepção generalizada de impacto negativo na saúde mental evidencia a necessidade de olhar com atenção para o lado humano da iniciativa.

Figura 2 – Os dados sobre a percepção de impacto negativo na saúde mental mostra que 85,3% dos moradores afirmam sentir impacto psicológico negativo devido ao programa, enquanto apenas 14,7% dizem não ter sido afetados.
Relação entre o Ruído e a Saúde Mental dos Moradores
A pesquisa investigou diretamente se o Paulista Aberta “impactou negativamente sua saúde mental”. Os dados revelam uma correlação fortíssima entre sentir o ruído como incômodo e relatar prejuízos à saúde mental:
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Entre os moradores que apontam o som amplificado como um problema, 90,6% afirmam que sua saúde mental foi afetada negativamente pelo programa. Em contraste, entre aqueles poucos que não veem o som como problemático, apenas 6,7% relatam algum impacto mental. Ou seja, praticamente todos os residentes incomodados pelo barulho sofrem consequências psicológicas negativas, enquanto quem não se incomoda com o som (uma minoria) quase não apresenta queixas de saúde mental.
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De modo similar, entre quem reclama do excesso de apresentações simultâneas, 89,1% reportam efeito negativo na saúde mental, ao passo que dentre os que não veem problema no número de bandas, cerca de 58,6% ainda assim relatam impacto mental. Esse último dado sugere que mesmo alguns moradores que toleram o número de apresentações podem sofrer pelo volume ou outros aspectos do ruído.
O gráfico a seguir ilustra claramente o primeiro ponto acima – como a prevalência de impacto na saúde mental despenca entre quem não se incomoda com o som, e dispara entre quem se incomoda:

Figura 3: Percentual de moradores com saúde mental afetada negativamente, comparando grupos que percebem (“Sim”) ou não percebem (“Não”) o som como um problema.
Como se observa, há uma diferença marcante: praticamente 9 em cada 10 moradores que consideram o som alto demais acabam sofrendo algum efeito mental (como estresse ou ansiedade), enquanto menos de 1 em cada 10 daqueles que não consideram o som um problema relataram impacto mental. Em resumo, os dados sugerem que o barulho intenso tem sido um fator determinante para o abalo psicológico dos moradores. Percepções sobre o Som Amplificado e Apresentações Simultâneas
A maioria dos moradores aponta o som alto e o acúmulo de bandas como problemáticos. Dos 259 respondentes, 94,2% consideram a amplificação do som nas apresentações um problema e 88,8% consideram problemático o número de apresentações musicais simultâneas (bandas próximas tocando ao mesmo tempo).
Esse resultado indica um incômodo quase unânime com o volume e também um incômodo muito elevado com a quantidade de fontes sonoras ao longo da Paulista Aberta. O gráfico abaixo ilustra a proporção de moradores que relataram incômodo com “som amplificado” e com “atos musicais simultâneos”:

Figura 4: Percentual de moradores que consideram o ruído um problema (som muito amplificado e número de apresentações simultâneas).
Em palavras simples, praticamente todos os moradores sentem o som das apresentações como alto demais e perturbador, e quase 9 em cada 10 também reclamam que há muitas bandas tocando ao mesmo tempo, gerando sobreposição de ruídos. Esses índices mostram que o barulho dominical/feriado do programa é percebido de forma amplamente negativa pela comunidade residente.
Vale destacar que outros incômodos levantados na pesquisa (fora do escopo principal deste relatório) também foram mencionados, porém em menor grau: por exemplo, 83% relataram prejuízo à mobilidade nas calçadas devido ao público e 79% notaram acúmulo de lixo deixado após o evento. Entretanto, o ruído aparece como a principal fonte de insatisfação, superando os demais problemas em frequência de relatos.
Efeitos da Poluição Sonora no Bem-Estar
(Estresse, Insônia, Ansiedade)
Os impactos negativos do ruído na saúde mental dos moradores se manifestam de várias formas, conforme os relatos qualitativos e a experiência diária descrita pelos participantes. Cerca de 86% do total de moradores pesquisados indicaram algum prejuízo ao bem-estar devido ao barulho, incluindo sintomas como:
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Estresse e irritabilidade: Muitos residentes relataram níveis elevados de estresse nos dias de Paulista Aberta. O som constante de música alta, muitas vezes por horas seguidas, é descrito como desgastante, gerando tensão e dificultando o relaxamento dentro de casa. Moradores contam que no domingo – dia tradicionalmente de descanso – acabam ficando em alerta ou irritados pela dificuldade de ter silêncio.
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Distúrbios do sono (insônia): Vários participantes mencionaram dificuldade para dormir ou descansar adequadamente durante os eventos. Especialmente moradores que trabalham ou estudam aos sábados e dependem do domingo para repouso afirmam que o barulho prolongado à noite os impede de dormir cedo, causando insônia e prejudicando a recuperação para a semana seguinte. Mesmo com janelas fechadas, muitos relatam que as apresentações musicais podem ser ouvidas nitidamente dentro dos apartamentos.
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Ansiedade e preocupação: Outra consequência citada foi um aumento da ansiedade. Alguns moradores antecipam com apreensão a chegada do final de semana, preocupados com o incômodo que virá. Esse estado de ansiedade antecipa e acompanha os domingos de Paulista Aberta, afetando o bem-estar mental. Há relatos de moradores que deixam de convidar familiares para casa nesses dias ou que se refugiam fora de casa aos domingos para fugir do barulho, o que ilustra o nível de perturbação sentido.
Em resumo, a poluição sonora tem impactado seriamente o bem-estar: os residentes frequentemente se sentem estressados, cansados e ansiosos, tendo sua qualidade de vida diminuída nos dias de evento.
Diversos moradores enfatizaram que o domingo deixou de ser um dia de descanso, passando a ser um dia de incômodo e desgaste mental, o que a longo prazo pode ter efeitos cumulativos na saúde.
Apoio ao Programa: Comparação 2015 vs 2025
A pesquisa comparou o grau de apoio dos moradores ao programa Paulista Aberta no início (2015) – quando foi implementado – e atualmente (2025). Os participantes atribuíram notas de 1 (nenhum apoio) a 5 (apoio total) para cada período. Os dados revelam uma queda acentuada no apoio ao programa ao longo da década, especialmente entre os moradores que relatam impactos negativos causados pelo som.
Ao recordar o início do programa, em 2015, os moradores relataram uma percepção muito mais positiva. Na época, 48,2% deram nota 5, demonstrando alto entusiasmo com a iniciativa. Outros 10,9% atribuíram nota 4, enquanto apenas 25,4% manifestaram total desaprovação (nota 1). Esses dados indicam que, no início, havia um apoio expressivo da comunidade local ao fechamento da avenida aos domingos.
Após dez anos de funcionamento do Paulista Aberta, a pesquisa mostra que a percepção atual entre os moradores é majoritariamente negativa. Mais da metade dos participantes (54,9%) deu nota 1, indicando nenhum apoio ao programa. Notas intermediárias são menos frequentes – apenas 11,1% deram nota 3 e 4,9% nota 4 – enquanto somente 15,3% atribuíram nota 5 (apoio máximo). Esses dados apontam para um cenário de forte desaprovação entre os residentes da Paulista em 2025.

Figuras 5 e 6 – Comparação das notas de apoio ao programa Paulista Aberta em 2025 e 2015 mostra a distribuição das notas atribuídas pelos moradores ao programa Paulista Aberta em dois momentos: atualmente (2025) e no início da iniciativa (2015). Em 2015, predominavam avaliações positivas: quase metade dos participantes deu nota 5, indicando apoio total. Já em 2025, observa-se uma inversão nas opiniões – a maioria deu nota 1, demonstrando forte desaprovação.
De maneira geral, houve uma redução grande no apoio. Em 2015 a média de apoio dos moradores girava entre 3,1 e 4,3 (de 5) dependendo do grupo, enquanto em 2025 essas médias caíram para entre ~1,9 e 2,7. Isso significa que muitos moradores que antes viam o programa com bons olhos mudaram de opinião após vivenciarem anos de ruídos e transtornos.
O gráfico a seguir ilustra a queda na média de apoio entre 2015 e 2025, segmentada por tempo de residência do morador:

Figura 7: Apoio médio ao programa Paulista Aberta em 2015 vs. 2025, separado por tempo de moradia na região. (Escala de 1 a 5; barras amarelas representam o apoio médio inicial e barras laranja o apoio médio atual.)
Importante ressaltar que a queda de apoio é mais pronunciada justamente entre quem sofre com o barulho. Por exemplo, moradores que hoje consideram o som um problema deram em média nota 3,5 de apoio em 2015, mas apenas nota 2,0 em 2025 (queda de 1,5 ponto). Já aqueles que não sentem incômodo com o som praticamente mantiveram seu apoio alto (média ~4,5 tanto em 2015 quanto em 2025).
Ou seja, quem não sofre impactos continua apoiando, mas quem sofre mudou drasticamente de postura, passando muitas vezes de apoiador a opositor do Paulista Aberta. Esse dado “fecha o ciclo” da relação incômodo → piora na qualidade de vida → perda de apoio: os residentes afetados pelo ruído deixaram de apoiar o evento na mesma medida em que sua paciência se esgotou com os problemas não resolvidos.
Percepção de Problemas e Incômodos
Som Amplificado e Apresentações Simultâneas: A maioria dos moradores aponta o som alto e o acúmulo de bandas como os principais problemas do programa Paulista Aberta. Dos 259 respondentes, 94,2% consideram a amplificação do som nas apresentações musicais um incômodo significativo. Já 88,8% criticam a quantidade de apresentações simultâneas, com múltiplas bandas tocando ao mesmo tempo ao longo da avenida. Isso revela um desconforto quase unânime com o volume e a sobreposição de sons nas manhãs e tardes de domingo.
Além disso, 83,0% dos moradores apontaram dificuldades de mobilidade nas calçadas, devido à presença intensa de pedestres e vendedores ambulantes, e 79,0% citaram o lixo deixado após os eventos como fonte de desconforto. Esses fatores ajudam a entender por que o apoio ao programa diminuiu com o tempo: o desgaste acumulado com barulho excessivo, superlotação e desorganização no entorno tem impactado negativamente a experiência de quem vive na região.

Figura 8 – Gráfico horizontal mostra os principais transtornos apontados pelos entrevistados: som amplificado (94,2%), excesso de apresentações simultâneas (88,8%), mobilidade prejudicada nas calçadas (83,0%) e lixo deixado após o evento (79,0%). O ruído aparece como o fator de maior incômodo, seguido por sobreposição de atividades e desordem urbana.
Diferenças de Percepção por Tempo de Moradia
A pesquisa permite ainda observar diferenças interessantes conforme o tempo de residência na região. Todos os grupos de moradores – novos ou antigos – demonstram altas taxas de incômodo com o som, mas há variações sutis:
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Moradores recentes (<5 anos na região): este grupo inicialmente apoiava muito o programa (média de apoio 4,09 em 2015). Possivelmente muitos deles mudaram-se para a Paulista após o início do projeto, alguns talvez atraídos pela ideia de lazer aberto. No entanto, 96% desses moradores novos consideram o som amplificado um problema, e 91% afirmam que sua saúde mental foi afetada pelo barulho. Atualmente, seu apoio médio despencou para 2,43. Isso indica que mesmo os recém-chegados, que em tese sabiam da Paulista Aberta, acabaram incomodados além do esperado – a tal ponto que a maioria hoje desaprova o programa. Em termos de efeitos, eles estão entre os que mais relatam insônia e ansiedade, por não terem conhecido a Avenida Paulista em seu estado “original” de tranquilidade dominical e se depararem diretamente com o cenário barulhento.
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Moradores de 5 a 10 anos: quem reside desde meados dos anos 2010 tende a ter tido a maior expectativa positiva inicial – deram a maior média de apoio em 2015 (4,31). Talvez por terem vivenciado o começo do programa com entusiasmo, ou por perfil demográfico mais jovem, 84% hoje consideram as múltiplas bandas um problema (ainda uma maioria muito grande, mas ligeiramente menor que em outros grupos). Cerca de 71% relatam impacto mental – porcentagem ainda alta, porém inferior aos ~90% dos demais grupos. Em 2025, o apoio médio deles caiu para 2,73, uma queda significativa mas não tão baixa quanto a dos demais. Essa combinação sugere que moradores de 5–10 anos podem ter um nível de tolerância um pouco maior ou encontraram formas de lidar com o ruído, embora a maioria ainda esteja incomodada. É possível que parte deles tenha se adaptado parcialmente ou faça uso de soluções (janelas antirruído, por exemplo) – o que explicaria a proporção ligeiramente menor de queixas de saúde mental. De qualquer forma, a opinião líquida também tornou-se negativa nesse grupo.
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Moradores antigos (>10 anos): os residentes de longa data já viviam na Paulista antes do Paulista Aberta (início em 2015). De fato, eles mostravam menor apoio inicial ao projeto (média 3,12 em 2015), possivelmente já antevendo problemas. Com o passar do tempo, 95% deles confirmam que o som é um incômodo e 88% tiveram a saúde mental afetada – porcentagens tão altas quanto dos moradores novatos. Hoje seu apoio médio é apenas 1,87, o mais baixo de todos os grupos. Muitos desses moradores relatam que a tranquilidade de seus lares foi perdida; alguns mencionam que ao longo dos anos o barulho aumentou em frequência e intensidade, ampliando a insatisfação. Assim, os moradores antigos, que já estavam céticos, tornaram-se fortemente contrários ao programa à medida que viram seus temores se confirmarem domingo após domingo.
Para sintetizar essas diferenças, a tabela abaixo traz os principais indicadores por tempo de moradia:

Tabela 1: Comparação entre grupos de moradores por tempo de residência. Observa-se incômodo generalizado com o ruído em todos os grupos (>83% em todas as perguntas sobre ruído), com destaque para saúde mental afetada em menor proporção relativa no grupo de 5–10 anos (ainda assim 71%).
Em suma, todos os perfis de moradores sofrem com a poluição sonora do Paulista Aberta, diferindo mais no histórico de apoio inicial do que na percepção atual. Os moradores mais antigos já desconfiavam e agora se opõem fortemente; os moradores que vieram durante o programa estavam otimistas mas se frustraram; e até os recém-chegados que “já sabiam” acabaram surpresos negativamente com a intensidade do incômodo.
Essas nuances são importantes para entender que, independentemente do tempo de residência, o excesso de barulho está degradando a qualidade de vida de praticamente todos os que vivem na região.
Localização dos Depoimentos
A análise dos dados coletados demonstrou que os depoimentos dos moradores não se distribuíram de forma homogênea ao longo da região da Avenida Paulista, mas concentraram-se em alguns condomínios específicos.
Em termos de número absoluto de moradores reclamantes, destaca-se o condomínio Paulicéia/São Carlos do Pinhal, no nº 960 da Avenida, com 105 moradores que relataram incômodo com o som. Em seguida vem o Residencial Baronesa de Arary (Av. Paulista, 1745), com 96 reclamações. Outros condomínios com alto volume de queixas incluem o Edifício Milan (Av. Paulista, 1207), Edifício Três Marias (Av. Paulista, 2239) e o Conjunto Residencial Suíço (Av. Paulista, 671).
Para melhor visualização da concentração dos depoimentos, o gráfico abaixo mostra a distribuição percentual das reclamações entre os cinco condomínios mais citados e os demais residenciais da região.

Figura 9 – Distribuição dos moradores reclamantes por condomínio. O gráfico de setores revela que os condomínios Paulicéia/São Carlos do Pinhal e Baronesa de Arary, juntos, concentram 78% de todas as reclamações registradas (41% e 37%, respectivamente). Os demais condomínios – Milan, Três Marias, Suíço – e os outros residenciais somam apenas 22% do total. Essa concentração indica que o impacto sonoro do programa Paulista Aberta tem pontos de maior intensidade, provavelmente ligados à localização das apresentações musicais na avenida.
Em síntese, tanto pelo volume quanto pela proporção de moradores afetados, evidencia-se que as reclamações por poluição sonora se concentram em alguns condomínios específicos da Av. Paulista – indicando que esses residenciais são os mais impactados pelas apresentações musicais do programa Paulista Aberta.
Conclusão
Os dados da pesquisa deixam claro que a poluição sonora causada pelo Paulista Aberta tem tido um impacto amplamente negativo na vida dos moradores da Av. Paulista e entorno. Resumidamente:
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Incômodo quase unânime com o barulho: A maioria considera o som amplificado das apresentações e a simultaneidade de bandas como fatores perturbadores. Muitos moradores sentem que seus lares deixaram de ser ambientes tranquilos nos dias de evento.
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Prejuízos à saúde mental e bem-estar: Cerca de 86% dos respondentes relatam que sua saúde mental foi afetada – manifestada em estresse, problemas de sono, ansiedade e irritabilidade. Essa proporção chega a mais de 90% entre aqueles incomodados com o som, mostrando uma conexão direta entre o ruído e o mal-estar psicológico.
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Queda drástica no apoio ao programa: O apoio dos residentes ao Paulista Aberta despencou de 2015 para 2025. Moradores outrora favoráveis tornaram-se críticos à medida que vivenciaram os transtornos sonoros ao longo dos anos. Hoje, mais da metade não apoia de forma alguma a continuidade do programa nas condições atuais, especialmente os que sofrem com o barulho.
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Consistência das reclamações entre perfis de moradores: Seja entre novos moradores ou antigos, trabalhadores ou aposentados, praticamente todos os segmentos da comunidade residencial sentem os efeitos negativos do ruído. Nenhum grupo está imune ao estresse sonoro – as diferenças residem apenas no grau inicial de aceitação do programa, que foi se erosionando em todos os casos.
Em conclusão, a pesquisa evidencia que o Paulista Aberta, no formato atual com apresentações musicais amplificadas e simultâneas, está impactando adversamente a qualidade de vida na região.
Os moradores experimentam domingos e feriados de desconforto auditivo, resultando em desgaste mental e insatisfação generalizada. Esses achados podem embasar discussões entre poder público, organizadores e comunidade sobre possíveis ajustes no programa – por exemplo, controle de volume, limitação do número de bandas ou outros mitigares de ruído – com vistas a compatibilizar o lazer público com o direito ao descanso e à saúde dos residentes locais.
Além dos efeitos negativos amplamente relatados – como estresse, insônia e ansiedade –, a análise revela uma marcante concentração geográfica das queixas. Em particular, condomínios como o Cond. Ed. Paulicéia e São Carlos do Pinhal – Av. Paulista, 960 e o Residencial Baronesa de Arary – Av. Paulista, 1745 se destacam tanto pelo elevado número absoluto quanto pela alta proporção de moradores reclamando do ruído, demonstrando que os impactos do som excessivo se manifestam de forma intensificada em determinados pontos críticos da região.
Essa focalização reforça a percepção de que, independentemente do tempo de moradia, os efeitos da poluição sonora – e, consequentemente, o abalo na qualidade de vida e saúde mental – são muito mais severos em áreas onde a infraestrutura e a localização potencialmente amplificam o incômodo. Esses resultados evidenciam a necessidade de uma análise regionalizada para compreender melhor os fatores que contribuem para a vulnerabilidade de determinados condomínios, ampliando o entendimento dos impactos do Paulista Aberta na comunidade residente.
Essa pesquisa, além de evidenciar os impactos diretos do ruído na saúde mental e no cotidiano dos moradores, também se propõe como base para um debate político mais amplo sobre o direito ao lazer e à cidade. A continuidade do programa Paulista Aberta, nos moldes atuais, deve ser discutida não apenas sob a ótica do entretenimento e da ocupação do espaço público, mas também a partir de critérios de sustentabilidade urbana, justiça territorial e respeito às populações residentes. O desafio é construir soluções que garantam o acesso democrático ao lazer sem impor ônus desproporcionais a quem mora na região, promovendo uma cidade mais justa, equilibrada e sensível à diversidade de seus habitantes.
O presente relatório fornece subsídios concretos, em números e relatos, do impacto negativo do ruído do Paulista Aberta na saúde e bem-estar dos moradores. Espera-se que essas informações contribuam para ações que tornem a Paulista verdadeiramente “boa para todos” – equilibrando a diversão do público com a tranquilidade e qualidade de vida de quem vive na região.
Análise Diagnóstica dos Depoimentos dos Moradores da Avenida Paulista sobre as Apresentações Musicais
Introdução
A Avenida Paulista, em São Paulo, tornou-se palco do programa Paulista Aberta, que fecha a via para automóveis aos domingos e feriados, promovendo lazer e apresentações culturais para a população. Embora a iniciativa tenha um objetivo nobre de oferecer cultura e convívio no espaço público, moradores da região têm relatado impactos negativos significativos devido à poluição sonora.
Entre 03/03 e 31/03 de 2025, foram coletados dezenas de depoimentos formais de residentes da Avenida Paulista e arredores detalhando como o som alto e constante das apresentações musicais nesses dias afetou sua qualidade de vida, sua saúde física e mental, e seu direito ao descanso semanal.
Este relatório apresenta uma análise estruturada desses depoimentos, ressaltando estatísticas de frequências das reclamações, exemplos qualitativos marcantes e temas recorrentes (como insônia, estresse, ansiedade e impossibilidade de relaxar), além de observar os horários mais críticos mencionados e a relação destes com o volume e duração das apresentações.
Metodologia
Para compreender o alcance e a natureza das reclamações, foram analisados aproximadamente 100 depoimentos escritos fornecidos espontaneamente por moradores da Avenida Paulista e imediações durante o período especificado.
Os depoimentos foram coletados através de formulário comunitário e incluem residentes de diversos edifícios (condomínios residenciais ao longo da Paulista e ruas próximas) com tempos de moradia variando de menos de 5 anos a mais de 20 anos na região. A metodologia de análise consistiu em:
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Quantificação de frequências: identificamos palavras-chave e expressões recorrentes nos relatos (por exemplo, "barulho", "impossível descansar", "não consigo dormir", "estresse", "ansiedade", "sair de casa", horários citados etc.) para obter estatísticas aproximadas da prevalência de cada tipo de queixa. Também categorizamos os depoimentos por temas centrais (perturbação do sono, efeitos na saúde, necessidade de deixar a residência, reclamações sobre horários, etc.) e contabilizamos a recorrência de cada categoria.
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Análise qualitativa: procedemos à leitura detalhada de todos os depoimentos para extrair trechos representativos ou emocionais que ilustrassem bem o sentimento dos moradores. Esses trechos selecionados são citados textualmente no relatório, fornecendo evidências diretas do teor das reclamações. Optou-se por destacar declarações que sintetizam os problemas comuns (por exemplo, moradores descrevendo sua exaustão e desespero diante do ruído ininterrupto aos domingos) e também frases que retratam o tom emocional (como manifestações de angústia, revolta ou apelo por soluções).
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Identificação de padrões temporais: os horários mencionados nos depoimentos foram compilados para verificar em quais períodos do dia os moradores reportam maior incômodo. Também observamos a duração típica das apresentações citada nos relatos e a frequência (se todos os domingos/feriados ou casos esporádicos).
Todas as informações e exemplos apresentados neste relatório estão baseados estritamente no conteúdo dos depoimentos fornecidos pelos moradores, citando-se trechos dos próprios relatos como evidência. Não foram consideradas fontes externas ou dados alheios a esses depoimentos. A seguir, detalhamos os resultados da análise, combinando dados quantitativos e qualitativos para oferecer um panorama completo do problema.
Resultados
Frequência e padrão das reclamações de ruído
Os depoimentos revelam uma quase unanimidade de queixas quanto ao barulho excessivo ocasionado pelas apresentações musicais do Paulista Aberta. Praticamente todos os moradores relataram incômodo significativo com o som alto aos domingos/feriados, indicando que o problema é generalizado.
Em especial, cerca de 90% dos depoimentos incluem afirmações de que é “impossível descansar ou ter sossego” em casa durante esses dias. Não se trata de um incômodo leve: os moradores usam termos fortes para descrever a situação, chamando-a de “inferno sonoro” e “perturbação aos direitos humanos”, e relatam que todo domingo se tornou sinônimo de barulho e estresse.
Quanto ao padrão temporal, os relatos coincidem ao apontar que as apresentações começam muito cedo e terminam tarde. Em vários depoimentos (cerca de 75%) menciona-se que já por volta de 8h00 ou 9h00 da manhã de domingo os músicos estão testando som ou tocando, interrompendo abruptamente o descanso matinal dos residentes.
Metade dos moradores chega a relatar ser acordada antes mesmo das 8h por ruídos de montagem de equipamentos, ensaios ou “passagem de som” dos artistas. Uma moradora ilustra: “sou acordada às 7h da manhã de domingo por múltiplos barulhos, discursos em alto-falantes, baterias escandalosas etc.”, ficando impossível continuar descansando.
Esse barulho inicial prolonga-se ao longo de todo o dia, muitas vezes excedendo inclusive o horário oficial de fechamento da via. Dois terços dos depoimentos enfatizam que o som persiste a tarde inteira, alguns afirmando que as apresentações vão “até depois das 19h00 da noite”.
Diversos moradores citaram atividades sonoras se estendendo até 20h ou 21h – por exemplo, grupos de dança e DJs que permanecem tocando mesmo após a reabertura da avenida, avançando pela noite. Um residente mediu picos de 103 decibéis dentro de seu apartamento numa tarde de domingo, indicando níveis de som equivalentes a de um martelete perfurador. Outro comenta que “são 12 horas de pancadão infernal, das 9h às 21h”, caracterizando o dia todo como um contínuo festival de ruído.
Em resumo, os dados apontam um padrão consistente de poluição sonora prolongada: manhã, tarde e início da noite de domingos/feriados marcados por múltiplas fontes sonoras amplificadas. O gráfico temporal descrito pelos moradores é alarmante e invariável: “Antes das 10h, já tem imensa poluição sonora” e “das 11h às 19h, é assim: solo de guitarra atravessando paredes, voz repetindo refrão até perder o significado”. Consequentemente, o domingo – tradicionalmente dia de repouso – passou a ser, nas palavras de uma moradora, “o dia oficial de fugir de casa e do caos que esse projeto traz”.
Principais impactos negativos relatados
A análise qualitativa dos depoimentos evidencia vários impactos negativos recorrentes na vida dos moradores, causados pelo excesso de barulho. Os temas a seguir foram os mais mencionados:
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Impossibilidade de descanso e sono: Quase todos os moradores enfatizam que não conseguem mais dormir ou repousar em seus lares durante os domingos de Paulista Aberta. Frases como “dormir à tarde é impossível” se repetem nos relatos.
Muitos contam que nem mesmo fechar todas as janelas e persianas ameniza o ruído a ponto de permitir o descanso. “Somos obrigados a fechar as janelas... mas não adianta”, desabafa um residente.
Televisão, leitura ou qualquer atividade silenciosa tornaram-se inviáveis: “não dá pra assistir TV, dormir ou ficar em paz!” exclama outro morador. Importante notar que diversos depoentes mencionam que domingo era seu único dia livre na semana para descansar, e esse direito básico ao descanso foi suprimido. Uma residente resume: “Um dia que deveria ser de descanso e restaurador torna-se um transtorno por exageros”.
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Sintomas de estresse, ansiedade e adoecimento: A exposição constante ao barulho tem afetado gravemente a saúde mental e emocional dos moradores. Mais de 80% dos depoimentos fazem menção a estresse, irritação ou ansiedade decorrentes do ruído.
Expressões como “fico muito estressado com o barulho” e “acordamos desgastados, ansiosos, prevendo o dia infernal que teremos” são frequentes. Moradores relatam tensão nervosa, insônia e esgotamento: “já acordamos com o coração acelerado com a expectativa de muito barulho”e “minha paciência tem limite... meu corpo reage tensionando ombros, cerrando mandíbulas”.
Há casos em que o nível de angústia beira o insuportável – “acho que estou ficando louca. Tem dias de desespero, quero fugir” escreveu uma moradora. Outra moradora, profissional da saúde, alerta que “o barulho se torna insuportável impedindo o descanso mental aos domingos”, avaliando que essa situação configura um risco à saúde mental coletiva.
Não por acaso, vários depoimentos afirmam “estamos ficando doentes!” devido à falta de sossego. Além do aspecto psicológico, há menções a efeitos físicos, como dores de cabeça e até influência no ritmo cardíaco: “a bateria deles interfere nos batimentos cardíacos da gente” relatou uma residente sobre uma banda próxima.
Um morador afirmou ter tido perda auditiva parcial, passando a falar mais alto em casa depois de sucessivos domingos exposto ao som elevado. Em suma, os moradores descrevem um quadro de estresse crônico e adoecimento, atribuído diretamente à poluição sonora – evidenciando um sério impacto à saúde pública local.
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Prejuízo à qualidade de vida e relações sociais: Os depoimentos deixam claro que o barulho não apenas interfere no descanso, mas desorganiza completamente a vida doméstica e social dos residentes. Mais da metade dos moradores (cerca de 55%) mencionam que desistiram de receber visitas ou reunir a família aos domingos, pois “receber uma visita num almoço de domingo é impossível” nas atuais condições.
Atividades simples como conversar dentro de casa tornaram-se difíceis: “Não consigo ouvir as pessoas dentro da minha própria casa” conta um morador. Lazer doméstico está fora de questão – vários relatos citam que não conseguem assistir a filmes, ouvir música ou mesmo falar ao telefone devido à competição de ruídos externos.
Uma residente resume a sensação de ter o lar invadido: “todo som não solicitado dentro da minha casa se torna barulho”. Esse incômodo prolongado gera frustração e sentimento de violação: “me sinto impotente e desvalorizada… nós moradores enfrentamos horas de uma cacofonia absurda”. Muitos enfatizam pagar impostos caros (IPTU) e, mesmo assim, não ter direito ao conforto básico em seus lares.
Em alguns depoimentos, os moradores expressam tristeza ao ver a Avenida Paulista – antes admirada pela organização e vivacidade – associada agora ao caos e sujeira, dizendo que “minha vida tornou-se um inferno aos domingos” e que a região “se degradou” nos últimos anos em função dessa desordem sonora e urbana.
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Medidas drásticas e fuga do lar: Diante desse cenário, muitos moradores adotaram estratégias extremas para lidar com o barulho, o que reforça a gravidade do impacto. Aproximadamente 40% dos depoentes afirmam que precisam deixar suas casas no domingo para não “enlouquecer” com o barulho. “Todos os domingos preciso sair de casa logo cedo e só voltar após as 16h pois o barulho é muito alto”, relata uma moradora.
Há casos de pessoas idosas, doentes ou com bebês que são obrigadas a se refugiar em outro lugar: “Tive que sair e ficar o dia inteiro na rua com minha mãe de 76 anos, por ela não conseguir ficar no meu apartamento”. Um morador conta que ele e a esposa passaram a dormir fora de casa regularmente: “por inúmeras vezes minha esposa saiu de casa sábado à noite para dormir na casa da irmã. Outras, foi para um flat. Outras, foi viajar, pois não suportava mais”. Esse mesmo depoimento menciona que somente ele e as filhas ficavam em casa – e ele “se recusava a sair da própria casa”, ilustrando o sentimento de desalento e resistência.
Situações como essas – famílias se dividindo nos finais de semana, moradores indo embora da cidade aos domingos ou planejando vender seus apartamentos por falta de paz – são mencionadas diversas vezes. De fato, cerca de 1 em cada 5 depoimentos menciona a ideia de mudar de residência caso nada seja feito, evidenciando a perda de qualidade de vida: “considerei vender meu apartamento e deixar o bairro... simplesmente por não ter mais paz no meu único dia livre”. Tais relatos demonstram o grau de saturação a que os moradores chegaram, a ponto de abrirem mão do convívio no lar ou pensarem em se desfazer de imóveis para fugir do barulho.
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Ressentimento e abalo emocional: Além dos prejuízos práticos, nota-se um tom de emocionalidade forte nos depoimentos – indo de tristeza e apelo a revolta. Muitos residentes sentem que seus direitos foram ignorados e manifestam indignação. “Os músicos e o poder público demonstram total desprezo pela convivência pacífica, reduzindo a tão propagada bandeira 'a rua é de todos' a um mero oportunismo... Os domingos se tornaram insuportáveis, morar na Avenida Paulista se tornou insuportável”, escreveu um morador, condenando a falta de respeito ao princípio de que a cidade é de todos.
Outro desabafa: “Não tenho mais paz aos domingos... passo a semana inteira cansado e estressado. É péssimo isso”. Há quem use ironia dolorosa, como a moradora que descreve “um verso que já foi poesia e agora é apenas eco”, um refrão repetido à exaustão como “maldição” dentro de casa. Essa mesma moradora fala dos pássaros evitando o local e de seu apartamento ter virado “uma caixa de ressonância”, onde ela fica contando os minutos para o breve silêncio quando a avenida reabre.
Esse teor quase literário de alguns depoimentos evidencia o esgotamento emocional. Por fim, vale notar também um sentimento de clamor por ajuda e justiça: moradores agradecem a iniciativa de coletar depoimentos e pedem providências urgentes. Termos como “socorro” aparecem em meio a descrições do caos urbano, mostrando que os residentes já se sentem em situação de emergência coletiva.
Horários mais críticos e relação com volume/frequência das apresentações
Conforme mencionado, os horários da manhã e início da tarde de domingo foram os mais citados como problemáticos, pois é justamente quando os moradores esperavam poder dormir um pouco mais ou relaxar e são surpreendidos por som alto.
Matinês barulhentas: Depoimentos indicam bandas iniciando às 8h30–9h com bateria e caixas amplificadas, DJs testando som logo cedo e pregadores usando alto-falantes na manhã (várias queixas sobre “discursos em alto-falantes antes das 10h”. Uma moradora comenta o espanto de ser despertada tão cedo: “Às vezes o barulho começa às 9 da manhã de domingo, mas inúmeras vezes os ensaios ocorrem antes desse horário. Um dia que seria de descanso já começa com desassossego”.
Já o período da tarde permanece barulhento de forma contínua. Muitos reclamam da “mistura de sons e ritmos que perduram por 7 horas” seguidas. “Desde de manhã até o final do dia, um som gritante invadindo nossas casas”, descreve um depoimento típico.
Horário de almoço: diversos moradores citaram o horário do almoço de domingo como especialmente frustrante – momento em que gostariam de reunir a família ou simplesmente comer tranquilos, mas “não consigo ter um almoço tranquilo em casa de domingo pois são muitas caixas de som com volume altíssimo por todos os lados”. Alguns contam que almoçam com janelas fechadas e mesmo assim mal ouvem a própria voz.
No início da noite (pós-18h), espera-se que cesse o programa, porém vários depoimentos denunciam que “mesmo com a Paulista já aberta para os carros, alguns artistas ficam tocando na calçada até a noite”. Casos de DJs eletrônicos estendendo-se até 22h ou 23h foram citados, especialmente próximos a certos pontos como ao lado do Edifício Paulicéia (onde “desligam lá pelas 23h”). Esses episódios pós-horário agravam a irritação, por demonstrar falta de fiscalização.
Notavelmente, quanto maior a duração e frequência das apresentações, maior o desgaste relatado. Moradores enfatizam que não é um evento pontual: ocorre “todos os domingos e feriados, o dia inteiro”, semana após semana. Muitos mencionam explicitamente a repetição semanal: “são todos os domingos, todos os meses...”.
Essa cronicidade torna o impacto cumulativo – residentes já começam o domingo apreensivos porque sabem o que os espera: “Ao acordar no domingo o coração já fica acelerado... Já acordamos desgastados, ansiosos, prevendo o dia infernal que teremos”. Ou seja, o efeito negativo não se restringe ao momento do ruído, mas antecede (pela ansiedade) e sucede (pela fadiga na semana seguinte) o evento.
Volume e tipo de som: Em relação à intensidade, virtualmente todos os relatos falam em som alto, altíssimo ou ensurdecedor. Mesmo quem apoia o programa destaca “MAS SOM ALTO NÃO!”, indicando que o volume é o cerne do problema. Vários moradores reclamam não apenas do nível sonoro de uma fonte, mas do conflito de múltiplas fontes simultâneas: “festival de sons desconexos competindo entre si”, “várias apresentações simultâneas gerando uma mistura inaudível de sons numa mesma quadra”.
Há menções a situações em que “na mesma esquina tínhamos sertanejo, rock, DJ de eletrônico e a banda de faculdade ensaiando – era uma cacofonia”. Nesses cenários, ironicamente, nem quem passeia consegue apreciar: “se a intenção é apreciar os artistas, esqueça! A poluição sonora é tão insana que mal se distingue uma música da outra”.
Em suma, o excesso de volume e de fontes sonoras foi apontado como elemento central do incômodo. Depoimentos sugerem que a reverberação entre os prédios agrava o problema: “a onda sonora se propaga e parece que a pessoa está se apresentando dentro do meu quarto”.
Em um caso, mediu-se 75 dB dentro de casa com janelas fechadas. Outra moradora comparou: “o som que vem da rua é muito mais alto do que se um vizinho estivesse com som ligado” e observou que mesmo idosos e crianças na avenida não têm paz com aquele nível sonoro.
A inferência comum é de que o uso de amplificadores e baterias em área cercada de edifícios eleva o ruído a patamares insuportáveis – “Parecia um tambor batendo dentro da minha sala”, “as janelas chegam a tremer” relataram alguns.
Em resumo, os horários mais criticados são a manhã (pela ruptura do sono) e o fim da tarde/noite (pela exaustão acumulada e prolongamento indevido), e a combinação de volume extremo + longa duração + múltiplas fontes configura uma situação de poluição sonora severa e contínua, que afeta drasticamente o bem-estar dos moradores em todos os aspectos citados.
Conclusão
A análise dos depoimentos dos moradores da Avenida Paulista e região deixa claro que, nas condições atuais, o programa Paulista Aberta tem causado um impacto negativo profundo na qualidade de vida dos residentes locais. As estatísticas e relatos apresentados evidenciam um padrão consistente de poluição sonora intensa, prolongada e recorrente, resultando em:
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Perda do descanso semanal: Os moradores não conseguem mais usufruir do único dia destinado ao repouso, relatando interrupção do sono, estresse e fadiga acumulada.
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Prejuízos à saúde física e mental: Há múltiplos relatos de sintomas de ansiedade, irritabilidade, dores de cabeça, elevação do nível de estresse e mesmo problemas auditivos decorrentes do barulho constante. Profissionais de saúde residentes alertam que a situação “impede o descanso mental” e pode ser considerada nociva à saúde pública.
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Comprometimento do bem-estar doméstico: Atividades corriqueiras como conversar, ver TV, ler ou receber familiares tornaram-se inviáveis aos domingos, levando muitos a abandonarem suas próprias casas nesses dias. Esse fato por si só demonstra um agravamento extremo: famílias se deslocando ou planejando mudar de endereço pela incapacidade de ter paz em casa.
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Sofrimento emocional e apelo por soluções: Os depoimentos carregam um tom de urgência e exaustão. Palavras como “insuportável”, “inferno” e “torturante” são utilizadas repetidamente. No entendimento dos moradores, seus direitos estão sendo negligenciados – “Os direitos de todos devem ser respeitados. Os domingos se tornaram insuportáveis”. Há um apelo coletivo para que medidas sejam tomadas pelas autoridades para mitigar o problema.
Em contrapartida, é importante ressaltar que muitos moradores não são contra o programa em si – vários depoimentos manifestam apoio à ideia de abrir a avenida para lazer e cultura, reconhecendo o valor público da Paulista Aberta.
O ponto unânime de discordância é a falta de controle da poluição sonora. Praticamente todos defendem que haja regulamentação do volume e local das apresentações musicais. As sugestões frequentes incluem: proibição de amplificadores potentes e baterias, delimitação de zonas longe de prédios residenciais para shows, limite de horários mais estrito (por exemplo, restringir performances musicais ao período entre 12h e 17h).
Nas palavras de uma residente, “o que pedimos, encarecidamente, é que os músicos se mantenham longe de pontos residenciais e sem amplificadores de som”, para que a Paulista volte a ser boa para todos.
Concluímos, portanto, que o excesso de ruído provocado pelas apresentações do Paulista Aberta está afetando negativamente a saúde e a tranquilidade dos moradores da Avenida Paulista, configurando um problema sério de bem-estar comunitário. As reclamações são frequentes, coerentes entre si e fortemente embasadas em experiências pessoais angustiantes.
Este relatório reforça a necessidade de intervenções urgentes por parte do poder público – seja na forma de fiscalizar e limitar a altura do som, reorganizar a distribuição espacial/horária das performances ou outras ações mitigadoras – a fim de equilibrar o direito ao lazer na cidade com o direito ao descanso e à saúde dos residentes.
Conforme resumiu um morador: “A Paulista é uma avenida, não um estúdio a céu aberto... O programa Rua Aberta teve um propósito nobre. Esperamos que as autoridades não o convertam em crime ambiental”.
Em última análise, uma Paulista verdadeiramente "Aberta" e acolhedora deve ser aquela que concilia o entretenimento de uns com o bem-estar de outros, garantindo que a avenida mais famosa do Brasil seja, de fato, boa para todos.