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Histórico dos conflitos: Programa Paulista Aberta

2015 – Criação e Primeiras Polêmicas

2016 – Consolidação, Apoio Popular e Base Legal

2017 – Mudança de Gestão e Redução do Escopo

2018 – Conflitos de Convívio: Moradores e Artistas de Rua

2019 – Batalhas Judiciais: Virada Cultural e Fechamentos Prolongados

2020–2021 – Interrupção pela Pandemia e Retomada Gradual

2022–2023 – Estabilidade e Ajustes no Programa

2024 – Ano Pré-Eleitoral de relativa calma

2025 – Confronto Aberto sobre Regulamentação de Artistas de Rua

  • Junho–Agosto de 2015: A gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) realiza fechamentos experimentais da Avenida Paulista para lazer, coincidindo com inaugurações de ciclovias (em 28/06 e 23/08)​ gazetadopovo.com.br. A ideia de tornar a Paulista um espaço de pedestres aos domingos ganha força como política pública municipal.

  • Agosto de 2015: O Ministério Público Estadual (MPE-SP) abre um inquérito civil (nº 429/2015) questionando o projeto, alegando possível violação de um Termo de Ajustamento de Conduta de 2007 que limitava a três por ano os eventos que fecham a Paulista (Parada LGBT, São Silvestre e Réveillon)​ ciclocidade.org.br

    ciclocidade.org.br. Promotores da Promotoria de Habitação e Urbanismo apontam riscos ao “direito de locomoção” e ao sossego dos moradores com fechamentos frequentes​

    ciclocidade.org.br. Organizações da sociedade civil reagiram, argumentando que a Paulista Aberta era uma demanda popular legítima e não simplesmente uma imposição unilateral do poder público​ ciclocidade.org.br.

  • Setembro de 2015: A Prefeitura realiza audiências públicas (incluindo uma no Vão do MASP em 19/09) para debater o projeto​

    noticias.uol.com.br e envia ao MP estudos de impacto, tentando demonstrar viabilidade​

    noticias.uol.com.br. Haddad insiste que se trata de “cumprir a lei federal do Plano Nacional de Mobilidade”, que incentiva ruas abertas, diferenciando a iniciativa de um evento festivo comum​ noticias.uol.com.br.

  • Outubro de 2015: Mesmo com o inquérito em andamento, Haddad decide iniciar a Paulista Aberta em caráter permanente. Em 09/10, o MP recomendara cautela: que a avenida ficasse parcialmente aberta ao tráfego (uma faixa por sentido) e que a implementação fosse adiada de 4 a 6 meses para novos estudos​gazetadopovo.com.br. A Prefeitura ignora a recomendação e anuncia em 15/10 o fechamento total da Paulista para carros todos os domingos, das 9h às 17h, já a partir do domingo seguinte​ gazetadopovo.com.br

    gazetadopovo.com.br. Esse enfrentamento marca o início do programa em 18 de outubro de 2015, “contra a vontade” do MP, segundo a imprensa​ gazetadopovo.com.br. Nos primeiros domingos, a adesão do público é alta enquanto associações de moradores manifestam preocupação com barulho e acesso a hospitais na região. Os hospitais, porém, declararam que o fechamento dominical não prejudicou o acesso de ambulâncias e pacientes.​ pt.org.br.

  • Início de 2016: Com alguns meses de Paulista Aberta, pesquisas indicam crescente aprovação. Em janeiro, 61% dos moradores da região apoiavam a abertura da avenida para pedestres aos domingos​ pt.org.br. Jovens aderiram em peso ao novo espaço de lazer, com participação de 75% dos moradores locais ao menos uma vez​ pt.org.br. A convivência de ciclistas, famílias, artistas de rua e público variado tornou-se parte da paisagem dominical​ pt.org.br.

  • Março–Julho de 2016: Arrefecem as tensões com o Ministério Público. Sem encontrar evidências de “caos” no trânsito e diante do respaldo popular, não há notícia de o MP ter prosseguido com ação judicial para barrar o programa – a princípio, o inquérito não resulta em liminar contra a Paulista Aberta. Pelo contrário, a iniciativa ganha legitimidade. Outros corredores viários passam a ser fechados em diversos bairros dentro do recém-criado programa “Ruas Abertas”, inspirado na Paulista​ pt.org.br. Até outubro de 2016, cerca de 29 vias em diferentes regiões passaram a abrir aos domingos, ainda que a Paulista permanecesse como vitrine principal do projeto​ agenciabrasil.ebc.com.br.

  • Em junho de 2016, nos últimos meses da gestão do prefeito Fernando Haddad, a Prefeitura de São Paulo buscou dar garantia legal permanente ao programa Paulista Aberta. Em 24 de junho, foi publicado o Decreto Municipal nº 57.086/2016, que instituiu o Programa Ruas Abertas agenciabrasil.ebc.com.br. Esse decreto consolidou as regras para o fechamento de vias para lazer, facilitando a inclusão de novas ruas, praças e largos na iniciativa.​capital.sp.gov.brcapital.sp.gov.br. Esse marco legal visava proteger o programa de interrupções por futuras gestões e reforçar seu caráter de política pública capital.sp.gov.br. Com o decreto sancionado, a Paulista Aberta tornou-se oficial e permanente no calendário paulistano.

  • Janeiro de 2017: Assume a prefeitura João Doria (PSDB), cujo plano de governo prioriza zeladoria urbana (Cidade Linda) e mudanças em projetos da gestão anterior. Doria sinaliza manter a Paulista Aberta, devido à sua popularidade, mas adota postura mais cautelosa nas demais “ruas abertas”.

  • 1º semestre de 2017: Sem alarde, a nova administração começa a enxugar o programa Ruas Abertas fora do centro. Diversas vias nas periferias que vinham sendo fechadas aos domingos deixam de ser interditadas, muitas vezes sem aviso prévio às comunidades​casaum.org. Na zona norte, zona leste e outros locais, subprefeituras simplesmente suspendem a iniciativa localmente, alegando baixa adesão ou reclamações de moradores​

    casaum.org. Por exemplo, avenidas como a Sumaré (zona oeste) e outras em bairros periféricos deixaram de fechar aos domingos, revertendo a abertura ao tráfego normal.

  • Justificativas e controvérsia: A gestão Doria nega publicamente qualquer intenção de acabar com o Ruas Abertas por completo, mas na prática descontinua expansões feitas em 2016. Autoridades municipais afirmam que em algumas regiões o programa “não vingou” por falta de público, e que moradores teriam preferido retomar a tranquilidade usual dos domingos​ casaum.org. Críticos, por outro lado, enxergam uma falta de esforço de diálogo: muitas dessas vias poderiam atrair público se houvesse melhor comunicação e programação local. Apesar do enxugamento nas bordas da cidade, a Avenida Paulista permanece fechada todos os domingos, indicando que a gestão poupou o carro-chefe do programa de lazer.

  • 2018: Cresce a ocupação cultural na Paulista: Aos domingos, a Paulista Aberta consolidou-se como grande atração turística e de lazer, recebendo milhares de pessoas e uma diversidade de artistas de rua – músicos, performers, vendedores ambulantes etc. Com o sucesso, vieram efeitos colaterais: o excesso de ruído em certos trechos passou a incomodar quem mora na avenida. Apresentações com caixas de som potentes, bandas e rodas de música se multiplicaram, agradando ao público visitante, mas gerando queixas de moradores sobre música alta por horas seguidas​ mobilize.org.br. Para residentes em prédios residenciais da Paulista, o domingo virou um dia barulhento, dificultando descanso.

  • Pressões e resposta da Prefeitura: Diante das reclamações formais de associações de moradores sobre o barulho e a ocupação desordenada do espaço, a gestão municipal (Doria/Covas) anuncia medidas. No início de 2018, a Prefeitura propõe criar um Conselho Gestor Local específico para a Avenida Paulista Aberta​ mobilize.org.br. O objetivo seria discutir os transtornos e buscar soluções de convivência. Controvérsia: a proposta original previa um conselho restrito apenas a representantes de moradores e comerciantes da região, excluindo outros atores envolvidos, como os próprios artistas de rua, frequentadores, ciclistas ou grupos que organizam atividades​ mobilize.org.br. Essa composição limitada gerou críticas imediatas.

  • Reação da sociedade civil: ONGs e coletivos que participaram da criação do Ruas Abertas (como SampaPé!, Cidade Ativa, Bike Anjo e outros) se unem para pedir um Conselho Gestor mais inclusivo​ mobilize.org.brmobilize.org.br. Em março de 2018, essas organizações publicam um posicionamento público questionando os termos do edital do conselho​ mobilize.org.br. Argumentam que limitar a participação aos moradores/proprietários fere a legitimidade do fórum, dado que a Paulista Aberta envolve toda a cidade e diversos usos​ mobilize.org.br. Defendem que artistas de rua, comerciantes ambulantes e usuários em geral tenham voz nas decisões sobre regras (como limites de som ou organização das atividades)​mobilize.org.br​ mobilize.org.br. Essa mobilização provoca revisões na ideia original. Ao longo de 2018, o debate sobre barulho leva a algumas ações pontuais – por exemplo, tentativas de ordenar a distribuição de artistas ao longo da via e orientar redução de volume –, mas sem alterações normativas rígidas naquele momento. O conflito entre moradores e artistas fica latente, à espera de uma solução estruturada.

  • Maio de 2019: A Paulista Aberta se mantém aos domingos e feriados, já amplamente aceita. No entanto, uma nova polêmica surge quando a Prefeitura de Bruno Covas planeja estender o horário de fechamento da avenida para acomodar parte da programação da Virada Cultural 2019. Pela primeira vez, a Paulista ficaria aberta aos pedestres por 24 horas seguidas, da noite de sábado (18/05) até a noite de domingo (19/05)​agenciabrasil.ebc.com.bragenciabrasil.ebc.com.br. Uma associação de moradores do entorno ingressa com uma ação para barrar a iniciativa, alegando que o fechamento contínuo traria “enorme impacto” ao tráfego, prejuízo ao comércio local e perturbação aos residentes​ jovempan.com.br. Além disso, argumentaram que a medida descumpriria o acordo com o MP estabelecido no TAC de 2007, que limitava eventos de grande porte na Paulista​ jovempan.com.br.

  • Liminar e reversão: Às vésperas do evento, a juíza Patrícia Pires, da 3ª Vara do Juizado Especial da Fazenda Pública, concede liminar favorável aos moradores, proibindo o fechamento de 24h​ jovempan.com.brjovempan.com.br. Em sua decisão, reconhece a intenção positiva de promover cultura, porém considera que estender o bloqueio além do domingo violaria direitos de ir e vir e o pacto feito com o MP em 2007​ jovempan.com.br

    jovempan.com.br. A Prefeitura imediatamente recorre e, poucas horas depois, obtém sucesso: no dia 18/05, o Tribunal de Justiça de SP cassa a liminar, autorizando a Paulista a permanecer fechada durante a Virada Cultural​agenciabrasil.ebc.com.br. Com a revogação da proibição, a programação planejada – incluindo palcos de música e intervenções artísticas ao longo da avenida – é mantida​

    jovempan.com.br​ jovempan.com.br.

  • Consequências: Esse episódio expõe a persistência de conflitos judiciais em torno da Paulista Aberta. Embora o uso regular aos domingos já estivesse consolidado e não mais contestado formalmente, tentativas de ampliação extraordinária (24h ou eventos extras) reativaram a oposição de parte dos moradores e do Ministério Público. O TAC de 2007 continuou a ser utilizado como base legal em argumentos contrários. Ainda assim, o desfecho favorável à Prefeitura na Virada Cultural 2019 sinalizou que os tribunais tendiam a balancear o interesse coletivo cultural com os incômodos locais, permitindo exceções em casos pontuais. A Paulista Aberta seguiu aos domingos sem interrupções após a Virada, mas autoridades ficaram cautelosas com futuras expansões de horário.

  • Março de 2020: O surto de Covid-19 atinge São Paulo e medidas emergenciais suspendem quaisquer eventos ou aglomerações. Em 15/03/2020 ocorre o último domingo de Paulista Aberta antes do lockdown​ poder360.com.br. A partir de então, a avenida permanece aberta ao tráfego normal nos domingos, quebrando um ciclo de quase 4,5 anos de funcionamento contínuo do programa. Não houve controvérsia política nessa interrupção – foi amplamente entendida como necessária pela crise sanitária.

  • 2020–início de 2021: Durante aproximadamente 16 meses, a Paulista Aberta e demais Ruas Abertas da cidade ficam paralisadas​ poder360.com.br. Moradores da região central experimentam domingos silenciosos novamente, enquanto frequentadores habituais manifestam saudade do espaço de lazer nas redes sociais. Comunidades de bairros periféricos, que já tinham perdido suas ruas abertas em 2017, veem a desigualdade de acesso ao lazer ao ar livre se aprofundar.

  • Julho de 2021: Com avanço da vacinação, a Prefeitura (agora sob Ricardo Nunes, que assumiu após o falecimento de Covas) autoriza a retomada gradual da Paulista Aberta. Em 18/07/2021, a avenida volta a fechar para carros em caráter experimental, porém com horário reduzido – das 8h às 12h​ poder360.com.br. O governo municipal explica que escolheu a manhã, tradicionalmente de menor movimento, para evitar grandes aglomerações enquanto a pandemia ainda inspira cuidados​

    poder360.com.br. Protocolos sanitários (uso de máscaras, distanciamento) são exigidos. A reabertura em meio período funciona como teste.

  • Agosto–Dezembro de 2021: Diante do sucesso do teste (alta adesão e respeito às regras), a Paulista Aberta vai gradualmente expandindo o horário nos meses seguintes. Ainda em 2021, o período dominical é estendido até 16h – e posteriormente retorna ao padrão próximo do original (por volta de 8h-16h). Entretanto, outras ruas abertas da cidade não acompanham a reabertura. Bairros que antes tinham vias de lazer seguem sem retomada do programa, seja por restrições orçamentárias ou desinteresse das subprefeituras. Na prática, em 2021 a Prefeitura reativa apenas a Avenida Paulista e pouquíssimos outros locais, deixando esquecidas as iniciativas nas periferias​

    casaum.org. Esse desequilíbrio é apontado por coletivos e pela imprensa local: enquanto a população do centro volta a usufruir de sua “praia de paulista” aos domingos, regiões fora do eixo central permanecem carentes de espaços semelhantes de convivência ao ar livre​ casaum.org.

  • 2022: Com a pandemia arrefecendo, a Paulista Aberta retorna plenamente como atração dominical. Não se registram conflitos significativos neste ano – o programa já incorporado à rotina da cidade opera sem maiores incidentes. No entanto, moradores da Avenida Paulista continuam a pressionar por soluções quanto à poluição sonora. A questão do volume das caixas de som ainda paira no ar, mas a Prefeitura adota abordagem conciliadora, intensificando rondas de orientação. Artistas de rua são instados a cumprir a legislação vigente (Decreto 55.140/2014, conhecido como “Lei do Artista de Rua”) que, em tese, permite apresentações com som moderado, mas veda estruturas de palco ou eventos de grande porte sem licença. Esse equilíbrio instável – tolerância com performances espontâneas e controle de abusos – perdura ao longo do ano.

  • Outubro de 2023: A gestão Ricardo Nunes implementa um ajuste no horário do Programa Ruas Abertas. A partir de 22/10/2023, o fechamento dominical na Paulista (e também no bairro da Liberdade) passa a vigorar das 9h às 16h​ agenciabrasil.ebc.com.br, encurtando em uma hora o tempo disponível em comparação ao período anterior (que iniciava às 8h). Segundo publicação no Diário Oficial, a mudança busca otimizar a logística de fiscalização, limpeza e manutenção após o evento​ agenciabrasil.ebc.com.br. Ou seja, terminando uma hora mais cedo, haveria “maior efetividade” na limpeza e organização do espaço público​ agenciabrasil.ebc.com.br. Essa redução não gerou grande protesto público – muitos frequentadores nem perceberam a diferença de horário, enquanto alguns habitués lamentaram perder a hora extra no fim da tarde. De qualquer forma, o programa seguiu firme, agora institucionalizado no horário menor.

  • Final de 2023: A Prefeitura também aventa expandir o Ruas Abertas para novos locais, como a Avenida São João, visando fomentar o turismo e comércio no centro​ agenciabrasil.ebc.com.br. Esse anúncio indica que, apesar dos ajustes, a administração Nunes pretendia manter e até ampliar a iniciativa de lazer urbano. No âmbito dos conflitos, as relações entre Prefeitura, moradores e artistas de rua permaneceram relativamente calmas em 2023, com diálogo contínuo mas sem embates de grande repercussão. O terreno, porém, estava fértil para as discussões que viriam no ano seguinte.

2024: Em ano de campanha municipal, nenhuma mudança drástica é feita no Paulista Aberta – o programa permanece nos moldes ajustados em 2023, evitando polêmica. Prefeito Ricardo Nunes,  busca equilibrar interesses: demonstra apoio à cultura de rua e ao lazer gratuito, mas também mantém um canal aberto com moradores e associações para tratar de incômodos. Não há neste ano confrontos midiáticos nem ações judiciais de destaque envolvendo o programa. . Assim, a Paulista Aberta seguiu como cartão-postal de convivência paulistana, preparando-se para enfrentar novamente suas tensões históricas de forma mais aberta em 2025.

  • No início de 2025, surgiram os primeiros atritos entre a Prefeitura e os artistas de rua na Paulista. No domingo, 2 de fevereiro de 2025, Agentes da Subprefeitura da Sé, com apoio da Polícia Militar, percorreram a Avenida Paulista fiscalizando e interrompendo apresentações que usavam caixas de som​noticias.uol.com.br. Grupos musicais e dançarinos foram informados de que não poderiam utilizar amplificadores; caso insistissem, teriam os equipamentos confiscados​ clickgoias.com.br. A banda Picanha de Chernobill – que se apresenta na via desde 2016 – foi impedida de tocar, ainda durante a montagem de seus instrumentos, sob risco de apreensão do material​. “Quando você vê a polícia ali, não tem muito o que fazer”, relatou o guitarrista Chico Rigo, explicando que, embora conhecessem seus direitos pela lei do artista de rua, optaram por recuar diante da ordem superior naquele momento​ oglobo.globo.comSegundo relatos dos músicos, policiais do Choque abordaram a banda pela manhã, alegando a existência de “uma suposta nova lei municipal” que proibiria o uso de caixas de som nas apresentações​ escotilha.com.br. “Estávamos montando as coisas e apareceram três policiais dizendo que não poderíamos usar amplificação”, contou Fernando Salsa, baterista do grupo​. Surpreendidos, os artistas desligaram os equipamentos para evitar apreensão. Após a frustrada tentativa de se apresentar, a banda publicou um vídeo-denúncia nas redes sociais, explicando o ocorrido. A gravação rapidamente viralizou, ultrapassando 480 mil visualizações nos dias seguintes​. Outros artistas de rua compartilharam relatos semelhantes, e o caso ganhou destaque na mídia e entre ativistas culturais.

  • O impedimento acendeu um alerta na comunidade artística de São Paulo. Diversos músicos de rua manifestaram preocupação com a possível perda de um direito garantido pela regulamentação vigente​. Afinal, pelas regras atuais, eles podem se apresentar na Paulista desde que não instalem estruturas de grande porte ou bloqueiem a passagem – condições que vinham sendo respeitadas. Não haveria, em tese, base legal nova que justificasse barrar shows com caixas de som para voz e instrumentos. Organizações e coletivos de artistas de rua passaram a discutir o ocorrido nas redes sociais.

  • A situação ganhou repercussão e passou a ser tratada como uma polêmica pública: de um lado, artistas e parte da opinião pública acusavam a gestão municipal de censura à arte de rua; de outro, a Prefeitura alegava estar respondendo a reclamações e cumprindo normas de ordem pública. Jornalistas e veículos de grande imprensa repercutiram o caso. No dia 6/2, o jornal O Globo noticiou que a Prefeitura admitiu ter realizado a ação a pedido de moradores e associações incomodados com barulho e “desordem” na Paulista​ oglobo.globo.com. Em nota, a Subprefeitura Sé afirmou que as manifestações culturais são permitidas na avenida, desde que respeitem a ordem pública e não impeçam outros cidadãos de usufruir do espaço​. Ressaltou que bandas com grandes estruturas – como geradores, amplificadores potentes ou que atraiam multidões a ponto de bloquear a via – precisam de autorização prévia​. A administração mencionou ainda atuar a pedido do Ministério Público e do Poder Judiciário para fiscalizar o cumprimento das regras​. Na prática, porém, vários artistas com estruturas pequenas relataram ter sido vetados igualmente​ escotilha.com.br, o que gerou críticas de arbitrariedade. A justificativa municipal também citou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) firmado em 2007 com o Ministério Público, que limita a realização de grandes eventos na Paulista a três por ano – Réveillon, Corrida de São Silvestre e Parada LGBT. A Prefeitura argumentou que algumas apresentações de rua estariam extrapolando e se assemelhando a eventos não autorizados, em violação ao TAC​ noticias.uol.com.br. Moradores da região sustentaram essas queixas, apontando incômodo com o volume de certos shows de rua​. Já os artistas contestaram essa interpretação: tocar música com caixa de som não equivale a evento de grande porte, mas sim a uma apresentação espontânea de pequeno alcance. Advogados e especialistas em cultura concordaram que o TAC de 2007 – criado para coibir megaeventos na Paulista fora do calendário oficial – não deveria ser usado para vetar artistas independentes, considerando isso um desvirtuamento da intenção original​.

  • Diante do embate, vereadores e parlamentares ligados à cultura se mobilizaram. A vereadora Keit Lima (PSOL) ingressou, já em 3 de fevereiro, com uma representação no Ministério Público contra o prefeito Ricardo Nunes, o secretário municipal de Cultura (José Parente) e o subprefeito da Sé (Álvaro Camilo). Ela os acusou formalmente de abuso de poder e censura contra os artistas de rua, apontando apreensão irregular de equipamentos e cerceamento da livre expressão cultural. “Estão perseguindo os artistas e impedindo suas apresentações. Essa ação viola direitos constitucionais à expressão e à cultura”, declarou a vereadora na denúncia​ oglobo.globo.com. A repercussão política aumentou a pressão sobre a gestão municipal para justificar suas ações. Paralelamente, o assunto tomou as redes sociais e a imprensa. Coletivos de artistas de rua, como o Artistas na Rua, denunciaram a “repressão ilegal e arbitrária” na Paulista, afirmando que a Prefeitura estava “fazendo contorcionismos” jurídicos para burlar a legislação vigente e calar os artistas​instagram.com. Blogues independentes e portais culturais também ecoaram os protestos. Em artigo intitulado “Retirada de artistas na Avenida Paulista é novo retrocesso no Programa Ruas Abertas”, a revista online Escotilha contextualizou que a Paulista aberta sempre comportou tranquilamente apresentações diversas, e atribuiu a proibição a uma “orientação política da Prefeitura de cerceamento” das manifestações artísticas​ escotilha.com.br. O advogado Guilherme Varella, ex-coordenador de políticas culturais, avaliou que “não há nada que justifique uma ação tão drástica” e que o que se via era um retrocesso motivado por visão política de ordem acima da cultura​. Em suma, formou-se a percepção de que a gestão Nunes tendia a restringir a ocupação cultural espontânea do espaço público – percepção reforçada por medidas anteriores na mesma linha, como a redução do horário do programa Ruas Abertas​ noticias.uol.com.br.

  • Ainda na primeira semana de fevereiro, entidades do setor cultural entraram no debate. Em 7 de fevereiro, a Associação Nacional da Indústria da Música anunciou a entrega de um estudo à Prefeitura demonstrando o impacto econômico positivo da música ao vivo de rua na Paulista, estimado em R$ 30 milhões por ano em benefício ao comércio local​ estadao.com.br. A iniciativa visava ressaltar à administração pública a importância da atividade e pedir regulamentação clara em vez de proibição. Naquele mesmo dia, a coluna do Estadão destacou o estudo e informou que, “no último domingo, uma ação da Subprefeitura Sé proibiu as apresentações que usavam caixas de som”, ao passo que a Prefeitura alegou atuar apenas em casos excepcionais, de grandes estruturas como palcos ou mesas de som​ estadao.com.br. Ou seja, a gestão Nunes negava haver uma proibição generalizada – o discurso oficial era de que “não há proibição, apenas organização”, nas palavras do subprefeito coronel Álvaro Camilo​ clickgoias.com.br​. Camilo chegou a declarar publicamente: “O que nós precisamos coibir é o excesso”, indicando que a intenção seria conter exageros, não banir a arte de rua​. Ainda assim, a diferença entre “excesso” e atividade normal ficou pouco clara, já que até pequenas bandas e cantores solo foram abordados. Por isso, a necessidade de critérios objetivos ganhou força no debate público.

  • No domingo seguinte, 9 de fevereiro, os artistas de rua transformaram a Paulista em palco de um ato de resistência cultural. Cerca de 100 artistas e apoiadores se reuniram na avenida, em frente ao prédio da TV Gazeta, para protestar contra a proibição do uso de amplificadores​ noticias.uol.com.br. O ato, convocado espontaneamente pelas redes, teve música, performances e falas ao microfone (desta vez emprestado por um carro de som de apoiadores). Muitos levaram cartazes defendendo a “Paulista do povo” e o “direito à arte de rua”. “É o nosso ganha-pão”, frisavam os artistas, explicando que muitos dependem das apresentações de domingo para sustentar suas famílias​. Eles ressaltaram que as caixas de som são indispensáveis para que música, teatro e dança alcancem o público em meio ao burburinho urbano​.

  • Durante o protesto – batizado por alguns de “violação não, violão sim” em alusão à música – diversos parlamentares e figuras públicas marcaram presença em solidariedade. A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), por exemplo, compareceu ao ato e discursou criticando a “truculência” da gestão Nunes com os artistas​ samiabomfim.com.br. “Estamos falando do ganha-pão de milhares de famílias que tornam o domingo na Paulista agradável para todos”, declarou Sâmia, denunciando um ataque à cultura popular​. Outros vereadores como Celso Giannazi e Paula Nunes (ambos do PSOL) também repudiaram a “censura” nas redes sociais e exigiram que a Paulista Aberta continue “sem mordaça” aos artistas de rua​.

  • A manifestação do dia 9 transcorreu de forma pacífica: naquela tarde, a rua ficou tomada por apresentações e a fiscalização municipal manteve-se discreta, sem novas interferências diretas. Os artistas deixaram claro que defendem a regulamentação do volume de som, se necessário, e o diálogo com moradores para evitar incômodos excessivos – mas não aceitam uma proibição total das caixas de som, que equivaleria a silenciar a arte de rua​ noticias.uol.com.br. “Em vez de banir, que se fiscalize o volume, estabeleça limites razoáveis. O que não dá é pra tocar violão para uma multidão sem nenhum som”, argumentou um músico no ato, resumindo o sentimento geral. O protesto recebeu ampla cobertura em portais de notícias: o UOL estampou a manchete “‘É ganha-pão’: proibição de caixas de som na Paulista é alvo de protestos”​, destacando as falas dos artistas e a adesão popular à causa.

  • Com a pressão da opinião pública e dos artistas só aumentando, a Prefeitura sinalizou disposição para rever a situação. Já na segunda-feira, 10 de fevereiro, representantes do governo municipal reuniram-se com um grupo de artistas de rua e membros da Secretaria Municipal de Cultura para iniciar um grupo de trabalho​ oglobo.globo.com. Essa comissão mista – que incluiu músicos, associações e moradores – teve seu primeiro encontro na Subprefeitura da Sé e agendou novas reuniões até o início de março. O objetivo declarado foi atualizar a “Cartilha Arte na Rua” (de 2014) e estabelecer critérios claros para as apresentações na Paulista Aberta​ escotilha.com.br. Entre os temas em discussão estariam: a definição do que configura arte de rua x evento, se e em quais condições amplificadores podem ser utilizados, qual o volume adequado para o som, e em quais pontos da avenida as apresentações podem ocorrer sem perturbação​ oglobo.globo.com​. A ideia, segundo nota da Prefeitura, é que a nova cartilha seja elaborada coletivamente com os artistas, de modo a contemplar tanto a liberdade cultural quanto o bem-estar do público e dos moradores​.

  • Em entrevistas, integrantes do grupo de trabalho demonstraram otimismo cauteloso. Chico Rigo (da Picanha de Chernobill) afirmou ver “com bons olhos” a iniciativa: “Pelo menos a Prefeitura quer sentar e conversar, não é mais uma medida arbitrária. A gente tem voz também”​ oglobo.globo.com. Por outro lado, os artistas reforçaram que continuarão vigilantes até que haja uma solução concreta. “Nos articulamos para que isso não aconteça mais, para não termos medo da polícia aparecer de novo e levar nosso equipamento”, disse Chico, indicando que a categoria permaneceria mobilizada​.

  • A gestão Nunes, por sua vez, passou a adotar um tom mais conciliador em público. Em entrevista à TV Globo, o subprefeito Álvaro Camilo reiterou que a Paulista é de todos – dos artistas e do público – e que o objetivo não era expulsar os músicos, mas sim coibir excessos​ escotilha.com.br. “Pode vir, pode tocar, pode trazer sua caixinha de som, desde que sejam ativações pequenas”, afirmou Camilo, indicando que pequenos amplificadores seriam aceitos​ . Ele enfatizou a necessidade de organização e de que “o som não seja tão alto a ponto de incomodar os moradores”, lembrando que há edifícios residenciais na avenida​. Essa declaração sinalizou uma possível flexibilização, alinhada com o que os artistas vinham propondo (controle de volume em vez de proibição total). No entanto, na prática, a proibição formal do uso de caixas de som não havia sido suspensa até aquele momento, permanecendo a orientação de fiscalização enquanto as conversas prosseguiam​.

  • No dia 17 de fevereiro estava prevista uma nova reunião entre a Subprefeitura e os artistas para dar seguimento às negociações​ escotilha.com.br. Até o final de fevereiro de 2025, o impasse caminhava para uma solução de consenso, ainda que não totalmente resolvido. O episódio, porém, já deixou um legado importante: um amplo debate na cidade sobre como conciliar o direito à cidade e à cultura com o direito ao descanso e à ordem urbana. Especialistas apontam que o caso expôs a necessidade de políticas claras para a arte de rua – valorizando seu impacto positivo (social, cultural e até econômico)​ estadao.com.br, mas também mediando eventuais conflitos com a vizinhança de forma democrática, justa e equilibrada.

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Uma inciativa cidadã de moradores da Avenida Paulista

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