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Ruído, Saúde e Produtividade:
O Que Está em Jogo na Avenida Paulista?

Mais do que um cartão-postal, a Avenida Paulista é um dos maiores centros corporativos do Brasil, onde o trabalho é a atividade predominante. Das mais de 1,5 milhão de pessoas que circulam diariamente pela região (Veja), 63% estão ali a trabalho, 10% estudam ou moram no entorno e 14% buscam lazer ou entretenimento (Exame). Essa intensa convergência entre negócios, cultura e lazer impulsiona a economia, mas também impõe desafios significativos para a produtividade, a qualidade de vida e a atratividade comercial, exigindo um equilíbrio que garanta a harmonia entre desenvolvimento e bem-estar coletivo.

 

É inegável que os artistas que se apresentam na Avenida Paulista desempenham um papel essencial na identidade cultural da região, sendo amplamente apreciados por moradores, trabalhadores e visitantes. No entanto, o uso indiscriminado de amplificadores sonoros, aliado à falta de fiscalização e de uma regulamentação específica, pode gerar impactos que afetam um número significativo de pessoas. As consequências vão além do desconforto auditivo, refletindo-se diretamente na qualidade de vida, na saúde e na economia local. Diante desse cenário, torna-se essencial equilibrar a livre expressão cultural com a preservação do bem-estar coletivo, garantindo que a Paulista continue sendo um espaço democrático e sustentável para todos.

 

O incômodo causado pelo barulho já se reflete em um número crescente de reclamações (G1). A cidade registra mais de 118 denúncias diárias por perturbação sonora, e o volume de queixas mais do que dobrou nos últimos seis anos. Apenas no último período, foram 43.272 registros, conforme dados da Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSub) obtidos pela GloboNews via Lei de Acesso à Informação.

 

Medições recentes indicam que os níveis de ruído na Avenida Paulista podem chegar a 85 decibéis (ProAcústica), 30 decibéis acima do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar perda auditiva, estresse, insônia, irritabilidade, fadiga, hipertensão e problemas cardíacos. O excesso sonoro compromete não apenas a saúde física e mental de trabalhadores, estudantes e moradores, que representam 73% dos frequentadores da avenida, mas também gera impactos financeiros significativos (Folha). Como consequência, a economia local sofre, com empresas enfrentando custos operacionais mais altos, redução da produtividade e um ambiente de trabalho cada vez menos sustentável.

 

Ao contrário do que alguns afirmam de forma simplista, não se trata de desvalorizar o importante papel da arte, cultura e lazer, que são parte fundamental da identidade da Avenida Paulista. A questão é equilíbrio. Sem uma regulamentação eficiente e uma fiscalização rigorosa para restringir o uso indiscriminado de amplificadores sonoros, o que se perpetua não é o incentivo à cultura, mas danos irreversíveis à economia e à saúde de moradores, estudantes e trabalhadores da região. 

 

Vale salientar que, trabalhadores expostos a níveis de ruído que ultrapassam os limites estabelecidos pela Norma Regulamentadora 15 (NR-15) do Ministério do Trabalho e Emprego poderão pleitear adicional de insalubridade, o que elevaria os custos de contratação em 10% a 40%, a depender do nível de exposição (TRT), afetando diretamente a competitividade das empresas da região. Além disso, a exposição contínua ao ruído elevado pode tornar obrigatória a distribuição e fiscalização do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como protetores auriculares industriais, para os funcionários da avenida expostos ao ruído excessivo. Tal cenário não apenas onera os empregadores, mas também compromete o ambiente de trabalho, a produtividade e a atratividade da Avenida Paulista..

 

Agora, exerça a empatia: imagine-se tentando trabalhar, estudar ou simplesmente descansar enquanto quatro ou cinco bandas, dos mais diversos estilos musicais, tocam simultaneamente, cada uma amplificando seu próprio som em uma disputa pelo volume mais alto. Como seria sua concentração? Como isso afetaria sua produtividade, seu bem-estar ou até mesmo sua saúde? Se amplificadores e caixas de som são inviáveis no metrô devido ao impacto sonoro e ao desconforto causado aos passageiros, por que o uso indiscriminado deveria ser normalizado em um dos principais centros do país, onde milhares de pessoas dependem de um ambiente adequado para trabalhar e produzir?

 

Mais uma vez, reforçamos: o que está em discussão não é a arte, mas a falta de controle sobre o ruído. A Avenida Paulista precisa continuar sendo um espaço vibrante, democrático e sustentável, onde a cultura, o trabalho e a qualidade de vida coexistam de maneira harmoniosa. Sem equilíbrio, perde-se a identidade, a economia sofre e o bem-estar de milhares de pessoas fica comprometido.

 

Escrito por moradores da Av. Paulista 

Fontes:

 

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora n.º 15 – NR-15. Disponível em:https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/norma-regulamentadora-no-15-nr-15. Acesso em: 13 mar. 2025.

 

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO (TRT-18). Por exposição a ruído acima de 85 decibéis, trabalhador deverá receber adicional de insalubridade. 2025. Disponível em: https://www.trt18.jus.br/portal/por-exposicao-a-ruido-acima-de-85-decibeis-trabalhador-devera-receber-adicional-de-insalubridade/. Acesso em: 13 mar. 2025.

 

G1. São Paulo tem 118 reclamações de poluição sonora por dia; ruídos em excesso são prejudiciais à saúde. São Paulo, 12 fev. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/02/12/sao-paulo-tem-118-reclamacoes-de-poluicao-sonora-por-dia-ruidos-em-excesso-sao-prejudiciais-a-saude.ghtml. Acesso em: 13 mar. 2025.

 

PROACÚSTICA. Ruídos na Avenida Paulista causam danos à saúde. 2025. Disponível em:https://www.proacustica.org.br/noticias/clipping/ruidos-na-avenida-paulista-causam-danos-a-saude/. Acesso em: 13 mar. 2025.

 

FOLHA DE S. PAULO. Poluição sonora afeta saúde e bolso de paulistanos. São Paulo, 2019. Disponível em:https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/11/poluicao-sonora-afeta-saude-e-bolso-de-paulistanos.shtml. Acesso em: 13 mar. 2025.

 

EXAME. 20 coisas que você precisa saber sobre quem frequenta a Paulista. 2025. Disponível em:https://exame.com/marketing/20-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-quem-frequenta-a-paulista/. Acesso em: 13 mar. 2025.

 

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE (PNUMA). Relatório Fronteiras 2022: Barulho, Chamas e Descompasso. 2022. Disponível em:https://www.unep.org/pt-br/resources/fronteiras-2022-barulho-chamas-e-descompasso. Acesso em: 13 mar. 2025.

 

HANSEN, Cypress. Sounding the alarm: How noise hurts the heart. Knowable Magazine, 2 dez. 2021. Disponível em:https://knowablemagazine.org/article/health-disease/2021/how-noise-pollution-affects-heart-health. Acesso em: 13 mar. 2025.

 

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). The World Report on Hearing (WRH). Genebra: OMS, 2021. Disponível em:https://www.who.int/publications/i/item/world-report-on-hearing. Acesso em: 13 mar. 2025.

 

INTERNATIONAL NOISE AWARENESS DAY (INAD). 27th Annual International Noise Awareness Day. 2025. Disponível em:https://noiseawareness.org. Acesso em: 13 mar. 2025.

 

INAD BRASIL. Apresentação. 2025. Disponível em:http://www.inadbrasil.com/apresentacao/. Acesso em: 13 mar. 2025.

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